A minha democracia
Por Rafael Duarte
Na minha democracia eu vou mandar prender o primeiro sujeito que me chamar de ditador. E se ele resistir à prisão, só lhe restará, democraticamente, um lugar no paredão. Na minha democracia só vai ter jornal de papel porque se não for pra sentir o cheiro da notícia o jornalismo pra mim já não fará mais o menor sentido. Na minha democracia o samba vai até de manhã porque o ‘cara’ mesmo era o Cartola e se foi ele quem disse que o Sol Nascerá ninguém haverá de negar a profecia mais óbvia.
Na minha democracia Flamengo é Flamengo e, só por causa disso, mas só por causa disso mesmo, eu não precisaria dizer mais nada. Na minha democracia os direitos serão iguais: a polícia, por exemplo, só vai algemar bandido rico porque o pobre, a sociedade já trata de algemar há muito tempo. Na minha democracia um carro importado e um prato de comida vão custar o mesmo preço: o da consciência de cada um. Na minha democracia partido só vai ter se for bem alto. Até o último partideiro reclamar que a voz está falhando porque, pela centésima vez, acabou a cerveja no bar da Nazaré numa quinta-feira de samba.
Na minha democracia, Lula e Fernando Henrique vão sentar na mesma mesa de bar e dividir a mesma garrafa de cachaça porque eu sei e você sabe quem derruba quem nessa brincadeira. Na minha democracia, as chances do ABC não subir para a primeira divisão serão as mesmas do América jogar a série C na casa da Frasqueira. Na minha democracia reeleição é caso de política. E política é caso de... deixa pra lá. Na minha democracia, o prêmio nobel vai para o primeiro cientista que descobrir porque durante uma divergência sempre falta neurônio na hora H.
E pode escrever aí que eu assino embaixo: na minha democracia, os meus amigos de fé hão de entender que meus defeitos vêm de fábrica ainda que meus pais sejam inocentes até que se prove o contrário. E eu sei que, todos eles, na alegria e na tristeza, me apoiarão por saber que meus desafios valem todo e qualquer sacrifício. Na minha democracia, um mais um vai ser igual a dois independente da porra da bolsa de Nova Iorque.
É que na minha democracia, diante do trono é apenas um passo antes da merda. E vamos ser sinceros: se a prefeitura virar um programa de TV, 90% da população muda de canal na minha democracia.
Na minha democracia a imprensa livre é necessária, mas uma sociedade bem informada é fundamental. Farei mesmo é como o Aldir Blanc: perdoo a todos, não peço desculpas. Afinal, independente de qualquer democracia, foi isso que eu quis viver.
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