segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A REDINHA


"Do cais, você olha a boca-da-barra. Do lado de cá, o pontal escuro, com um farol sinaleiro. Braço de pedra, mar adentro, ajudando navios e barcos maiores nas aperturas do canal. Do lado de lá, o dorso branco de prais e morros, manchas vermelho-azuis do casario irregular. Uma torre humilde de igreja. Os cocares impacientes do coqueiral. O território livre da Redinha.
Há um misterioso chamamento que vem das bandas de lá. Vem no vento manso que arrepia o rio. Vem nas quilhas dos barcos e botes que manobram viagens. Vem na conversa dos que chagam com cestas de cajus (pelos fins do ano) e balaios de peixe. O convite chega até você de muitos modos e sob formas diversas. O nome adocicado e leve da praia, do lado de lá, já por si memso é um convite: Redinha."

"Tudo o que nos cerca é tão encantatório e feliz, que vale caminhar. Vamos ao encontro da manhã. O azul por todas as partes mais se acende. Os morros vão dourando as areias relaxadas. O mar começa os suores do grande trabalho que o sol castiga com fulgurações, escamando-o de pratarias infinitas. O homem parece menor, parece um ser, que não fosse o seu sentir e o seu embriagar-se de liberdade, ficaria ali, para sempre, até apodrecer entre sargaços malcheirosos. Mas, na sua ínfima dimensão, carrega um poço enorme onde sofre a queda, o desabar de todas aquelas luzes e cores e sofre o impacto daquele espetáculo, para poder dar testemunho, transformar as palavras, falas e denúncias, emoções, embriaguês enfim."

Newton Navarro ("Do outro lado do rio, entre os morros")

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