sábado, 4 de junho de 2011

tipos potiguares

QUEM DIRIA? FALVES SILVA CONHECEU CAZUZA
Falves Silva
Conheci Cazuza no final da década de 60, era um tipo de estatura mediana, magro, meio sarará, olhos apertados, como se a claridade do sol estivesse incomodando o tempo todo. Era paraibano de Guarabira, se não me falha a memória. Conhecia meu pai, que era jogador profissional e andava de feira em feira no interior da Paraíba fazendo a vida na mesa do jogo, bancando o “capira”, “relansinha”, “bozó”, etc. O irmão da Cazuza, que não lembro seu nome agora, sempre dava notícias de meu pai.
– Francisquim, diz a Rita (minha mãe) que vi Bastião, lá em Sapé, ele mandou lembranças. Dizia ele. Eu tinha então 13 ou 14 anos e trabalhava na República distribuindo jornais para os assinantes, andava Natal todinha que terminava praticamente no 16RI, pra lá do 16 tinha umas poucas casinhas, mas ninguém assinava jornais naquela área.
Pois bem, o sebo da Cazuza ficava aqui na esquina do Beco da Lama com a Ulisses Caldas, botava uma mesa comprida na calçada, enchia de livros e revistas, ficava à espera do freguês, lá ia eu, saía d’A República, subia na São Tomé, passava pelo mercado (onde é o Banco do Brasil hoje), tomava um caldo de cana com pão doce, feita a barriga me dirigia ao sebo do Cazuza.
Sempre fui aficcionado em revista de nus, e, naquele tempo, onde um menino de 14 anos poderia encontrar o tal artigo, senão no Sebo de Cazuza? Chegando lá meio desconfiado, com jeito de quem não quer, e querendo, olhava por cima, vasculhava (sabia que as revistas de nudismo ficavam por baixo das outras, pra ninguém ver). J. Cronin, Conan Doyle, Edgar Alan Poe, Balzac, que nada! O que eu queria mesmo era as revistas, metia a mão lá por baixo, e pimba! Lá estavam elas, as revistas.
 – Quanto é essa, Cazuza?
– Diacho é isso, menino, né coisa pra tu não, visse. Mas como conheço teu pai, leva 3 por duzentos!
Lá ia eu com as revistas escondidas, por entre os jornais pra ninguém ver quando chegava naquelas ruas do Tirol. Natal tinha pouca gente nas ruas nesse tempo, especialmente no Tirol, que era a área da média e alta burguesia, exclusivamente residencial, sentava numa calçada embaixo de uma mangueira e ficava folheando as revistas página por página à procura das louras mais bonitas. “Os homens preferem as louras, né?” Marcava as páginas pra tocar “uma” na primeira oportunidade.
Ainda hoje sinto saudade do Sebo de Cazuza...
In: SILVA, Abimael. Guia dos sebos de Natal e textos afins. Natal: Sebo Vermelho, 1998.

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