terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ESSAS POESIAS - por Dedham Califa

  
De tanto voar e voar . . .
Aquelas poesias se achegaram ao campo orbital
Não se contentaram com as alvas cordilheiras
Feito as coxas torneadas da Musa-Inca
Nem tampouco com inóspitos fiordes da Escandinávia...
E assim essas nossas poesias
Transcenderam nas órbitas de estrelas além-grandeza
Achegaram-se às galáxias anos-luz distantes
Com os ventos estelares
Expandiram-se nas palavras e sonhos
Na estrela dos Vedas
Compartilharam poiésis amiúde
Seguiram adiante como que perdidas no espaço
O vácuo é sempre a alteridade
Na Nebulosa de Andrômeda
Ao sul da constelação de Cassiopéia
Mudaram de ideia
E retornaram ao Califado do Vovó Cafifa
Essas poesias da gente . . .

Dedham Califa
Ilustração. Imagem capturada por Omar Califa
no Site da NASA acesso 06/01/2011

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O RISO POR JORGE FERNANDES

Habitualmente, vivo assim sorrindo...
O riso, para mim, exprime tudo...
E, no ato mais sério, estando rindo,
Sou mais sério, sorrindo, que sisudo!..

(In: "Poetas do Rio Grande do Norte", de Ezequiel Wanderley)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ortleb e Gonçalves: a iniciação dionisíaca (de Nietzsche e de outros)

"Desce daí! Estás surdo? Aqui tens a minha garrafa!" - versos de Ernest Ortleb

Na trajetória filosófica e existencial do intempestivo e avassalador Friedrich Nietzsche, muito se fala em Wagner e Lou Salomé como nomes de destaque. Mas há um outro nome, esquecido, pouco dito e pouco lembrado, que pode ter sido tão fundamental quanto os requintados artistas. Era “só” um poeta bêbado, maltrapilho, sem eira e nem beira que Nietzsche, junto com outros colegas de escola, conheceu durante sua primeira juventude.
Era Ernest Ortleb, um zé-ninguém que rondava as cercanias de Naumburg. Nietzsche contava então 18 anos e, juntamente com seus companheiros, era deslumbrado pela figura blasfema e embriagada que vagava por bosques e recitava poemas embaixo das janelas das salas de aula.
Safranski, autor de “Nietzsche: biografia de uma tragédia”(lançado no Brasil pela Geração Editorial, com tradução de Lya Luft), registra que álbuns de poemas de Nietzsche dessa época teriam poemas escritos pelo próprio Ortleb.
Ortleb, o maldito, foi encontrado morto numa vala junto a uma estrada e foi graças a Nietzsche e seus colegas que pôde ser sepultado.
Penso no mito de Dioniso, cujo preceptor foi Sileno, também poeta que se encontrava eterna e totalmente embriagado. Penso em Gonçalves, o erudito livreiro que, depois de beber com os meninos e meninas no Bosque da Universidade em Fortaleza, pelo fim do século XX, depois de se internar na clínica Elo de Vida e depois de morar num velho ônibus abandonado num posto de gasolina, sumiu mais uma vez sem que se saiba seu paradeiro.
Será isso um eterno-retorno?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

SONETO DE CARNAVAL - por Dedham Califa, el escriba do Benfica

Soneto de carnaval



Todo dia é dia – por isso sem enxame!
Ao primeiro de janeiro inicie as folias
Com paciência nas festividades e poesias
Ali na Aurora já no colo te quem o ame!


Ide pelas ruas, braços dados com a bela lua!
Quando ela o acompanhar; se não uma Ninfa
Que o conduza pelas ladeiras qual um Califa
Pelas ruas de Benfica lá aonde a folia se situa


No cotidiano, dias santos e profanos -  desembaça
As festalanças estão nas praças e no seu interior
Sejai palhaço, cangaceiro, duende e/ou pierrô

Chegando em 31 de dezembro correi de novo à praça
Ide no nado, a pé, de trem qualquer transporte afinal
Vai começar tudo de novo pois chegou o Carnaval!


Dedham  Califa
MMVII/Fev

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A PROPÓSITO DO CARNAVAL: DUAS VISÕES SOBRE O RISO – por Cellina Muniz




O riso pode ser considerado um dos elementos que melhor definem a contradição e pluralidade humana. É como ressalta Minois (2003), no seu trabalho de peso sobre a história das práticas e teorias do riso:

Alternadamente agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigável, sardônico, angélico, tomando as formas da ironia, do humor, do burlesco, do grotesco, ele é multiforme, ambivalente, ambíguo (...) Na encruzilhada do físico e do psíquico, do individual e do social, do divino e do diabólico, ele flutua no equívoco, na indeterminação (MINOIS, 2003, p. 16).

Assim, a presença do risível nas manifestações literárias acompanha a própria história da humanidade, haja vista a própria condição da espécie humana de rir e de provocar o riso. E também não é de hoje que o riso pontua muitas e importantes reflexões teóricas.
Na sua Poética, um dos muitos tratados que compõem o Copus Aristotelicum, trata das representações literárias quanto aos seus meios, objetos e maneiras (ARISTÓTELES, 1996, p. 33), mas todas necessariamente compreendidas como imitação de pessoas em ação, fosse em suas virtudes, fosse em seus vícios. Estabelece, assim, uma distinção fundamental entre os gêneros tragédia e comédia, e é aí que o riso surge através de um traço diferenciador básico: Nessa mesma diferença divergem a tragédia e a comédia; esta os quer imitar inferiores e aquela superiores aos da atualidade (ARISTÓTELES, 1996, p. 32).

A comédia, gênero desenvolvido a partir das improvisações sobre os ditirambos (hinos de louvor a Dioniso), bem como a poesia satírica, seriam maneiras de representação poética que teriam como objeto a imitação de pessoas inferiores, diferentemente das tragédias e poesias épicas, que teriam como objeto os homens considerados superiores aos da realidade. Assim, embora fosse menos normativo que descritivo, Aristóteles não deixa de estabelecer uma relação de juízo negativo sobre a comicidade, a partir de uma concepção dicotômica, ao assinalar:

A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não, porém, com relação a todo vício, mas sim por ser o cômico uma espécie de feio. A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição (ARISTÓTELES, 1996, p. 35).

Abre-se, então, uma leitura do cômico como reprovação ao vício, ao feio e ao defeituoso, e embora Aristóteles não forneça elementos sobre o que seja considerado ridículo, até os renascentistas prevalecerá essa concepção de riso como atitude de reprovação ao ridículo (cf. SKINNER, 2004, p. 34).
Visão distinta sobre o riso é a de Mikhail Bakhtin, que atentou para a alegre relatividade de tudo (BAKHTIN, 1999, p. 125), ao tratar da obra de François Rabelais. Bakhtin considera o riso como o elemento mais emblemático da cultura popular medieval e renascentista, principal instrumento de manifestação de uma cosmovisão carnavalesca. Analisando o carnaval, entre os séculos XIV e XVI, Bakhtin o compreende como a afirmação festiva e ritual da relatividade do mundo, marcado por elementos como o livre contato familiar entre os homens, a excentricidade, as alianças e a profanação (BAKHTIN, 1997), o que se estende, segundo me parece, até os dias de hoje.

O livre contato implica a revogação de todo o sistema hierárquico da vida normatizada e todas as formas conexas de medo, reverência, devoção, etiqueta, etc. (BAKHTIN, 1997, p. 123). Assim, todas as desigualdades sociais (de sexo, de idade, de classe etc.) ficam abolidas durante o carnaval.

A excentricidade carnavalesca diz respeito, pois, à libertação dos comportamentos, gestos e palavras de qualquer imposição hierárquica, o que se torna, aliás, motivo para percebê-los como excêntricos e inoportunos do ponto de vista da lógica do cotidiano não-carnavalesco (BAKHTIN, 1997, p. 123).
A familiaridade das mésalliances está relacionada à quebra propriamente dita das oposições. Como assinala o autor (BAKHTIN, 1997, p. 123), o carnaval aproxima, reúne, celebra os esponsais e combina o sagrado com o profano, o elevado com o baixo, o grande com o insignificante, o sábio com o tolo, etc.
Assim, têm lugar as profanações, os sacrilégios e as indecências carnavalescos que se relacionam com a força produtora da terra e do corpo (BAKHTIN, 1997, p. 123), a enfatizar o que é objeto de negação de uma tradição elitista e erudita que prioriza o mundo abstrato das ideias.
O carnaval, portanto, uma festa popular de insurreição de poderes, tem no riso seu fator mais singular, caracterizado de modo também bastante peculiar: o riso carnavalesco da Idade Média e Renascimento é um riso do povo, em que todos riem, o riso é geral; é um riso universal, em que o mundo inteiro parece cômico e é percebido e considerado em seu aspecto jocoso; e é um riso ambivalente, porque nega e afirma, amortalha e ressuscita simultaneamente (BAKHTIN, 1999, p. 10).
Referências
ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores).

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e Renascimento: o contexto de François Rabelais. 4a ed. Tradução de Yara Frateschi. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora da UnB, 1999.
________________. Problemas da poética de Dostoiévski. 2a ed. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
MINOIS, George. História do riso e do escárnio. Tradução de Maria Elena Ortiz Asumpção. São Paulo: Editora da UNESP, 2003.
SKINNER, Quentin. Hobbes e a teoria clássica do riso. Tradução de Alessandro Zir. São Leopoldo, RS: Editora UNISINOS, 2004. (Coleação Aldus).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

RIMAS CHINFRAS - Uma homenagem ao poema/processo

DIÁLOGO 45 ANOS DEPOIS

João: Será que não está no bolso do seu vestido?
Maria: O que?
João: A sombra do infinito...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

PARA O INIMIGO N. 1

dói!

eu tenho tentado lhe dizer algumas coisas
há bastante tempo
perdi as minhas forças por você, e hoje
meu peito dói, dói, dói, por algum motivo e eu não
consigo achar
minha alma cai, cai, cai, de vez em quando eu sofro
e eu continuo a me preocupar
perdido no vazio desse sentimento
me encontra amanhã
pra gente conversar
desse sentimento
me encontra amanhã...


e mesmo que falte a coragem, ou sobrem, sobrem
palavras tolas
a gente pode rir, ou até mesmo chorar


tentei me aproximar por tantos motivos
mas fiquei só
esperando insistentemente
pra encontrar contigo
e te dar milhões de beijos sem ficar ouvindo
cobranças de amor
e encontrar você sorrindo
no meu coração, no meu coração
e te dar milhões de beijos sem ficar ouvindo
cobranças de amor
e encontrar você sorrindo
no meu coração...outra vez


minha alma cai, cai, cai
de vez em quando eu sofro...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

MAIS UM PENSAMENTO DO DIA

Epicuro e a questão do prazer:

"Nenhum prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos prazeres acarreta sofrimentos bem maiores do que os prazeres".

(In: MÁXIMAS PRINCIPAIS)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PENSAMENTO DO DIA

Nietzsche e o espírito livre:

"Ele lança para trás um olhar de reconhecimento por suas viagens, por sua dureza e seu alheamento de si, por seus olhares ao longe e por seus voos de pássaro nas frias alturas. Que bom não ter ficado como um carinhoso e tristonho preguiçoso sempre "em casa", sempre "ao lado de si"! Estava fora de si; não há nenhuma dúvida."

(In: HUMANO, DEMASIADO HUMANO)