sábado, 22 de outubro de 2011

dois poemetos em que me meto

O SEGREDO DO TEMPO

No infinito
Minhas palavras
Atrasadas
Vào vibrar
Em vão.
O agora-instante
No futuro bruma
Irá ressoar
Para cada sim
Também um não.
E para valer, então,
A imprecisão do presente momento
A certeza do desimportante
O segredo do tempo.

NA COZINHA
O peixe serra pisca o olho pra mim
como quem diz, brejeiro:
Depois deste chardonay
Você será
Tudo o que quiser.
Sim, eu creio, amigo.
A sua verdade
Vem do mar
E do calor desta chama.
Mas sou eu, peixe amigo
Que te jogo nesta panela
E te dou sabor.
Tudo isso
só para dizer
ai, o mar,
ai, o amor...

domingo, 16 de outubro de 2011

MAIS UM POEMINHA ORDINÁRIO ( da Série "eloCUbrações dominguEIras"

NA CASA GRANDE

O que me dizem essas paredes velhas?
Que palavras soam suas pedras?
Quantos anos para eu saber?
Na Casa-Grande
Da vila da Lagoa
Não vi fantasma do Tempo
Eu mesma sou
Escrava de mim.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

VIVA FERNANDO SABINO!!!






Se ainda fosse vivo, Fernando Sabino estaria completando hoje, dia 12 de outubro, exatos 88 anos. E hoje eu me lembro dele.
Claro, de sua escrita, poderosa, a povoar de delírios as leituras dos meus 14 anos. Eu lia Fernando Sabino a todo momento, em qualquer lugar: no ônibus, na solidão do quarto, nas aulas de física do colégio... E, na minha imaginação, eu achava que poderia esbarrar com ele em alguma esquina da cidade, no seu jeito distraído e bem humorado, vindo do Rio para Fortaleza para me consolar naqueles tempos difíceis.
Cheguei a escrever para ele. Quando sua carta em resposta à minha chegou lá em casa, a alegria foi imensa e inesquecível. Mandou-me de presente, entre outros, uma edição especial de "O menino no espelho", livro que li aos dez anos, na biblioteca da cidade de Barreiras, na Bahia, quando fiz uma viagem com a família e que ocupa, na minha lista de favoritos, lugar especial.
A seguir, trecho de uma ótima crônica sua, do livro "A falta que ela me faz":

O ESTRANHO OFÍCIO DE ESCREVER
Éramos três condenados à crônica diária: Rubem no "Diário de Notícias", Paulo no "Diário Carioca"e eu no "O Jornal". Não raro um caso ou uma idéia, surgidos na mesa de bar, servia de tema para mais de um de nós. Às vezes para os três. Quando caiu um edifício no bairro Peixoto, por exemplo, três crônicas foram por coincidência publicadas no dia seguinte, intituladas respectivamente: "Mas não cai?", "Vai cair"e "Caiu".
Até que um dia, numa ora de aperto, Rubem perdeu a cerimônia:
- Será que você teria aí uma crônica pequenininha para me emprestar?
Procurei nos meus guardados e encontrei uma que talvez servisse: sobre um menino que me pediu um cruzeiro para tomar uma sopa, foi seguido por mim até uma miserável casa de pasto na Lapa: a sopa existia mesmo, e por aquele preço. Chamava-se "O preço da sopa". Rubem deu uma melhorada na história,trocou "casa de pasto" por "restaurante", elevou o preço para cinco cruzeiros, pôs o título mais simples de "A sopa".
Tempos mais tarde chegou a minha vez - nada como se valer de um amigo nas horas difíceis:
- Uma crônica usada, de que você não precisa mais, qualquer uma serve.
 - Vou ver o que posso fazer - prometeu ele.
Acabou me dando de volta a da sopa.
- Logo esta? - protestei.
- As outras estão muito gastas.
Sou pobre mas não sou soberbo. Ajeitei a crônica como pude, toquei-lhe uns remendos, atualizei o preço para dez cruzeiros e liquidei de uma vez com ela, sob o título: "Esta sopa vai acabar".