quinta-feira, 9 de junho de 2011

"SE NÃO SEBO, ME ARRANHO" - Por João da Mata Costa

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Gostaria de aqui prestar uma homenagem a todos os sebistas do país, e em particular aos da minha terrinha. Sim, porque Natal já não é a mesma de quando não existiam o Cata-Livros, o Sebo Vermelho, o da Esquina e outros que já entraram na minha geografia sentimental. Uma cidade sem sebos é uma cidade sem vida. É nos sebos e pelos sebos que podemos avaliar o nível cultural de uma cidade – ele é uma medida dos que lêem, ouvem e escrevem. Quando vou ao centro da cidade, esqueço as outras “vitrines” e as “meninas” para me perder e me encontrar nos sebos. Apesar de ainda não termos uma grande tradição cultural sebista, é possível encontrar com certa persistência e abnegação algumas raridades fonográficas ou literárias. Eu as encontrei algumas vezes e tive grandes alegrias. Procuro outras, talvez nunca depare com elas, mas se as encontrar, certamente será num sebo. E nesse dia erguerei mais um brinde e te louvarei mais uma vez, sebo.
Mas o sebo não é só isso! É aquele templo sagrado onde se reúnem as fadas, os elfos e os gnomos que enfeitiçam e dão colorido à vida. É lá também que travamos contato com outras personagens vivas ou mortas. Algumas trilhas são deixadas e novos caminhos da alma são revelados.
No sebo não só recuperamos o tempo perdido como o livro perdido, mesmo quando este livro foi emprestado a alguém que já não pode devolvê-lo a nós pessoalmente. Emprestei certa vez um livro a pessoa muito querida e também freqüentadora assídua dos sebos. Repentinamente o meu companheiro de credo e “cruzes” falece, e a família vende todos os seus livros. Não fui procurar o livro em sua casa e nem participei da compra de sua valiosa biblioteca. Resignadamente achei que não encontraria mais o tal livro. Outro dia, numa das muitas peregrinações aos sebos, eis que me encontro novamente com meu precioso livrinho...
Evoé Sebo!
(In: SILVA, Abimael. Guia de sebos de Natal e textos afins. Natal: Sebo Vermelho, 1998).

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