quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Noite dos ventos, noite dos mortos"

Na lua cheia
e neste eclipse lunar
tenho de morrer
para novo sol raiar.

quem me disse esta verdade
foi a carta treze do tarô
um brinde, pois, ao ceifador
e que outra colheita
não tarde.

Um comentário:

  1. Isto me lembra uma manhã de sábado e mestrado no bar do Corró, uma camisa branca pro Zé Bolero, o alumbramento que ainda não veio e este Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho, do Manoel de Barros.
    1
    Gravata de urubu não tem cor.
    Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
    Luar em cima de casa exorta cachorro.
    Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
    Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
    Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
    No osso da fala dos loucos têm lírios.

    3
    Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
    Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.
    Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
    Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
    Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.

    7
    Uma chuva é íntima
    Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
    Se aparecem besouros nas folhagens;
    Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
    Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
    E o escuro se umedeça em nosso corpo.

    9
    Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
    lesma deixa risquinhos líquidos...
    A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
    palavras
    Neste coito com letras!
    Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
    Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
    escorre. . .
    Ela fode a pedra.
    Ela precisa desse deserto para viver.

    11
    Que a palavra parede não seja símbolo
    de obstáculos à liberdade
    nem de desejos reprimidos
    nem de proibições na infância,
    etc. (essas coisas que acham os
    reveladores de arcanos mentais)
    Não.
    Parede que me seduz é de tijolo, adobe
    preposto ao abdomen de uma casa.
    Eu tenho um gosto rasteiro de
    ir por reentrâncias
    baixar em rachaduras de paredes
    por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
    Sobre o tijolo ser um lábio cego.
    Tal um verme que iluminasse.

    12
    Seu França não presta pra nada -
    Só pra tocar violão.
    De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
    Não presta pra nada.
    Mesmo que dizer:
    - Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
    Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
    De ser o nada desenvolvido.
    E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.

    13
    Lugar em que há decadência.
    Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
    morcegos.
    Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
    a dentro.
    Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
    dentro.
    Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
    Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
    Onde os homens terão a força da indigência.
    E as ruínas darão frutos

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