E como fosse noite de lua nova, Alice N.
decidiu encarar a chuvinha fina que caía para ver o que se havia para ver no
mundo. Na cidade, acontecia um circuito de performances. Oba! pensou Alice N. e
lá se foi em busca de acaso e de novas impressões para suas retinas.
Mas não se sabe se pela chuva ou se pelo tom
carregado de solenidade, o certo é que os ossos de Alice N. gelaram. E ela
pensava com seus botões que o bom de um circuito de performances é mostrar e
ver o quanto a vida e a realidade são pura invenção e que em tudo a poesia
espreita.
Mas onde a leveza da poesia?
As intervenções todas carregadas de uma não
espontaneidade, freando a naturalidade da vida que acontece, independentemente
dos conceitos dos heppenings... Ai, ai, Alice N., o problema é seu se seu real
não se ajusta. Sim, Alice N. não se ajusta, delirava ela, enquanto olhava para
o bode que, exposto na dignidade de seus grandes testículos, não podia nem
optar por não ser incessantemente escovado pela atriz que, no entanto,
incomodou-se com a pergunta de um inocente leitor que passava por ali:
- Posso tirar uma foto dele?
Logo ali ao lado, um arremedo do que sejam pegações
em banheiros públicos performatizado por um poeta impossível. Mas, contradição,
logo ele, que era contra as microditaduras do cotidiano, exigiu uma fila do
lado de fora. Tudo bem, vai ver que a longa espera para entrada de um por um fosse necessária para
dar um efeito de intimidade... Mas o que dizer da porteira que, regulando a
entrada, impunha uma filmadora digital para cada um que entrava e, por
conseguinte, também um tipo de olhar?
Ai, Alice N., por que você tem que polemizar
tudo?
Mundo, mundo, vasto mundo...
Ainda encontrou o publicitário boa-praça e foi
tomar com ele uma cerveja. Em dado momento da conversa, ele dispara que ela não
passa de uma professorinha de quinta categoria. Já ouviu isso antes, Alice N. E, sem
saber se aquilo soava como ofensa ou elogio, pensou que todo mundo tem
opinião formada sobre tudo, sobretudo sobre o que não se conhece bem.
E como Natal não consagra nem desconsagra
ninguém, Alice N. resolveu se despedir e encarar a chuvinha que insistia em cair.
he he. Conciliar publicitário e "boa praça" é muito difícil.
ResponderExcluiresse texto me lembra um troço chamado "loucura controlada', do > Castanẽda e/ou de seus pares. Utilidades do alter ou de outro ego. Próxima vez que chover, me chama.
Olá,
ResponderExcluirEsse bode levou ao meu sobrenome - Carneiro -, que, ainda que sem esperar consagração, embora todo carneiro já seja consagrado pela teimosia e medo de chuva, atreve-se a escrever a mensagem aqui de baixo.
Escute só, acabei de receber meu livro, o INTUITOR BIÃO, uma xaropada de palavras sem futuro. Tem uma brincadeirinha (Leitores e Crítica) sobre ele no meu blogue, o POCILGA DE OURO. Gostaria de presenteá-la com um exemplar. Pra qual endereço eu posso enviá-lo?
Se aceitar o mimo, pode pôr o endereço no tcarneirosilva@gmail.com
Um abraço e bom fim de semana,
Do leitor,
Tião Carneiro