terça-feira, 12 de julho de 2011

A EXPLOSÃO CRIATIVA DO POEMA-PROCESSO - por Falves Silva



Desde o início do século XX, Natal divide-se entre a tradição e a modernidade, tomando como marco zero a palestra proferida pelo jornalista Manoel Dantas em 21 de março de 1909, sob o sugestivo título NATAL DAQUI A 50 ANOS, onde o visionário Dantas preconiza uma Natal futurista rica em tecnologia, onde a comunidade se deleitaria, longe daquilo que ele denominou de “Perigo Iminente”; se de um lado existiam os folguedos tradicionais, Lapinhas, Fandangos, Boi de Reis, saraus, cantões, por outro lado existia uma modernidade démodé, seja na vestimenta importada diretamente de Paris (segundo cronista da época), ou ainda nas palestras, a exemplo de Manoel Dantas, o que era costume no período a que me refiro.
1927. Seria, a rigor, um outro momento de grande relevância para a modernidade potiguar, antenado com o movimento paulista de 1922, o poeta Jorge Fernandes publicaria sua obra única, o LIVRO DE POEMAS, onde o autor deixa transparecer sua consonância com as teorias difundidas pela Semana de Arte Moderna de 22. Anos depois surge um outro poeta e romancista, José Bezerra Gomes, com sua poesia síntese, a exemplo de seu poema TODOS, onde o título incorpora-se ao resto do texto IRMÃOS; a nosso ver, Gomes seria o poeta da economia das palavras, um modernista por excelência.
1943. Segunda Guerra Mundial. Natal passa a ser o Trampolim da Vitória, vanguarda militar. Os yankes invadem as ruas da capital potiguar, coca-cola e chicletes, yes, nós somos bacanas!
1949. Newton Navarro, Dorian Grey e Ivon Rodrigues realizam a primeira Exposição de Pintura Moderna em Natal, sob influência do cubismo e dos modernistas de 22.
1961. O Cine Clube Tirol inaugura uma nova etapa, dentro daquilo que seria o espírito da modernidade provinciana: surgia uma geração de estudiosos da sétima arte e de outras artes em geral, futuros poetas, romancistas, artistas visuais, críticos, políticos e intelectuais, alguns em busca de novas postulações teóricas e uma prática em processo, entre os quais: Gilberto Stabile, Alderico Leandro, Bené Chaves, Hermano Paiva, Moacy Cirne, Franklin Capistrano, Francisco Sobreira, Juliano Siqueira, Antonio Capistrano, Valdeci Lacerda, dentre outros.
1967. Eclodiu o movimento do POEMA-PROCESSO, com uma exposição realizada no Sobradinho (Museu Café Filho), em 11 de dezembro daquele ano.
O Poema-Processo tem suas bases teóricas alicerçadas  nos poemas espaciais de Wlademir Dias-Pino, AVE e SÓLIDA, que já participara, 10 anos antes, do movimento da POESIA CONCRETA, ao lado de Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo, José Lino Grunewald, dentre outros. Juntaram-se a Wlademir, Álvaro e Neide de Sá, Moacy Cirne e Anchieta Fernandes, que aprofundariam os estudos estetizantes desse que seria a rigor o primeiro e único movimento estruturado dentro de uma visão revolucionária, organizando exposições, debates e lançando manifestos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, respectivamente.
No catálogo da primeira exposição, constam os seguintes poetas: Dailor Varela, Anchieta Fernandes, Falves Silva, Frederico Marcos, Nei Leandro de Castro, Laércio Bezerra, Wlademir Dias-Pino, Sebastião Nunes, Anselmo Santos, Neide de Sá, Marcio Sampaio, Henry Correia e Álvaro de Sá.
No final dos anos 60 e início dos 70, no auge do Regime Militar, o Movimento do Poema-Processo conseguiria driblar a censura repressora daquele momento histórico. Criando novos signos visuais, no texto do catálogo, Moacy Cirne descreve muito bem o clima que norteava a cultura daquele momento:
O poema-processo nasceu das condições históricas e sociais que dominam o Brasil atual: a necessidade de um Estado revolucionário. A poesia concreta já apresentara um programa de ação a partir do nosso contexto social. Hoje, mais do que nunca, os poetas e artistas devem ser guerrilheiros, como já fora Oswald de Andrade, a guerrilha teórica imposta por Décio Pignatari representa um passo importante, devemos ampliá-la através da prática de uma luta comum, nacional, contra o subdesenvolvimento cultural, político e social.
O poema-Processo conseguiu marcar presença constante no contexto cultural do Brasil e em outros países, com exposições e debates em várias capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Natal, João Pessoa, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, em seguida Argentina e Uruguai.
1972. Uma parada tática. Para avaliar que rumo tomaria o movimento, muitos fizeram experimentos, seguindo as postulações teóricas do Poema-Processo, entre os quais Alderico Leandro, Bosco Lopes, Rejane e Vicente Serejo, Natanael Virginio, Enock Domingos, Bené Chaves, Aléxis Gurgel, Racine Santos, Eduardo Gosson. Uns recuariam estrategicamente, a exemplo de Laércio Bezerra, Nei Leandro, Bosco Lopes, outros não quiseram continuar e simplesmente desistiram.
1977. Expoética, mostra comemorativa aos 10 anos do Poema-Processo, organizada por J. Medeiros, Anchieta Fernandes e Falves Silva, realizada na Biblioteca Câmara Cascudo. No evento, aconteceu um show musical que contou com a presença de Babal, João e Eri Galvão e os paraibanos Pedro Osmar e Paulo Ró.
A grande contribuição no campo da prática teórica no Estado se deve a Moacy Cirne e Anchieta Fernandes, incansáveis pesquisadores de semiótica, ao longo desses 40 anos, o que incentivou o surgimento de jornais e suplementos literários, a exemplo do Contexto, inicialmente editado por Tarcísio Gurgel, assessorado por J. Medeiros e Anchieta Fernandes, ou ainda a revista Criação, editada por Dácio Galvão, Falves Silva e Venâncio Pinheiro, e por último, o jornal A margem, editado por Anchieta Fernandes, Franklin Capistrano e Falves Silva. Essa publicação teve duração de 1986 a 2000.
2007. Existem hoje duas dissertações de mestrado no Estado, sob a visão da teoria do Poema-Processo: Da poesia ao poema, de Dácio Galvão, e Poética da Invenção, de J. Medeiros. Esperamos que outros estudiosos se aventurem nos próximos anos.

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