Na trajetória filosófica e existencial do intempestivo e avassalador Friedrich Nietzsche, muito se fala em Wagner e Lou Salomé como nomes de destaque. Mas há um outro nome, esquecido, pouco dito e pouco lembrado, que pode ter sido tão fundamental quanto os requintados artistas. Era “só” um poeta bêbado, maltrapilho, sem eira e nem beira que Nietzsche, junto com outros colegas de escola, conheceu durante sua primeira juventude.
Era Ernest Ortleb, um zé-ninguém que rondava as cercanias de Naumburg. Nietzsche contava então 18 anos e, juntamente com seus companheiros, era deslumbrado pela figura blasfema e embriagada que vagava por bosques e recitava poemas embaixo das janelas das salas de aula.
Safranski, autor de “Nietzsche: biografia de uma tragédia”(lançado no Brasil pela Geração Editorial, com tradução de Lya Luft), registra que álbuns de poemas de Nietzsche dessa época teriam poemas escritos pelo próprio Ortleb.
Ortleb, o maldito, foi encontrado morto numa vala junto a uma estrada e foi graças a Nietzsche e seus colegas que pôde ser sepultado.
Penso no mito de Dioniso, cujo preceptor foi Sileno, também poeta que se encontrava eterna e totalmente embriagado. Penso em Gonçalves, o erudito livreiro que, depois de beber com os meninos e meninas no Bosque da Universidade em Fortaleza, pelo fim do século XX, depois de se internar na clínica Elo de Vida e depois de morar num velho ônibus abandonado num posto de gasolina, sumiu mais uma vez sem que se saiba seu paradeiro.
Será isso um eterno-retorno?
A vida é um história contada por um tolo, cheia de som e fúria, significando nada.
ResponderExcluirOu ainda: viva Helmut Cândido!