segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PRETENSÕES DE COMEÇO DE ANO

Na segunda quinzena de janeiro, o ano ainda não começou pra valer, pensa. Pensa e não conclui nada ao certo. A não ser que quer viajar, sumir no mapa, se perder por aí, sem eira nem beira. E antes que se sinta mesmo se dissipando de vez em nuvens de tanta abstração, percebe a chuva chegando e pensa que bom, isso me consola, a chuva chegando, timidamente, essa chuva é uma certeza que me anima - tudo vem e vai, é assim mesmo. Ora, não diga... Pensa em sair para a rua, deixar a chuva molhar o corpo aos poucos, e assim também deixá-la lavar a alma, a vida, os caminhos que hão de ser trilhados.
Mas, ao contrário, deita na rede e decide folhear uma coletânea de contos. Abre o livro a esmo e esbarra justamente em "Feliz Ano Novo", de Rubem Fonseca. Miséria pouca é bobagem. Outro consolo além da chuva. Corre ao computador, confiante, como quem quer se confessar para continuar a existir. Mas nada consegue escrever, além de um ingênuo E viva a literatura. Viva mesmo. Mesmo que seja pura pretensão.

2 comentários:

  1. Me apoderando do Drummond:

    Alice N, sossegue, o amor
    é isso que você está vendo:
    hoje beija, amanhã não beija,
    depois de amanhã é domingo
    e segunda-feira ninguém sabe
    o que será.

    Inútil você resistir
    ou mesmo suicidar-se.
    Não se mate, oh não se mate,
    reserves-te toda para
    as bodas que ninguém sabe
    quando virão,
    se é que virão.

    O amor, Alice N, você telúrica,
    a noite passou em você,
    e os recalques se sublimando,
    lá dentro um barulho inefável,
    rezas,
    vitrolas,
    santos que se persignam,
    anúncios do melhor sabão,
    barulho que ninguém sabe
    de quê, praquê.

    Entretanto você caminha
    melancólica e vertical.
    Você é a palmeira, você é o grito
    que ninguém ouviu no teatro
    e as luzes todas se apagam.
    O amor no escuro, não, no claro,
    é sempre triste, minha filha, Alice N,
    mas não diga nada a ninguém,
    ninguém sabe nem saberá.

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    1. É isso mesmo, HB, os poetas sabem das coisas... Enquanto isso, vamos tomar aquela cerva?

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