segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CRONIQUETA METIDA A BESTA

LEMBRANÇA DE UM PASSEIO
Levou a filha de cinco anos consigo. Lá, sol, mar e aquela explosão que é uma praia urbana num dia de domingo.
- Seu clitóris é imenso – ele diria logo depois para a dona do bar, os dois atracados no minúsculo e fétido banheiro como são muitos deles nas praias e nos dias de domingo de sol. Enquanto isso, a menina chupava o dindim de morango, sozinha em meio aos bêbados, à espera do pai que saíra para mijar, três caipirinhas e duas cantadas ordinárias depois.
Chegaram, escolheram uma das mesas e sentaram. Uma mulher com grandes peitos moles veio atendê-los. O pai olhou de esguelha para a menina, tentando adivinhar se ela desconfiava de algo.
(É, filha, a estranheza sempre espreita, mais cedo ou mais tarde...)
- Ó tua caipirinha, tá uma diliça – anunciou a mulher, com voz a se pretender sensual.
Passou o ambulante, a menina só olhou para o pai e ele adivinhou, chamando o homem.
- Tem de quê?
Ela preferia o de uva, acabou escolhendo o de morango. Achava o vermelho mais bonito, parecia mais saboroso, mas um dia ela perceberia que todas as cores têm seu valor.
E por que é que todas as histórias têm que ter um elemento de sacanagem? pergunta a menina anos depois, olhando um pai sentado na calçada da esquina com um bebê no colo, enquanto aguarda o ônibus que a leve para uma das praias da cidade que ferve em mais um domingo de sol.

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