quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MAIS UM CONTINHO ORDINÁRIO

UMA ESTRANHA NA CIDADE

Recém-chegada à cidade, no hotel, quando saiu para o almoço do primeiro fim de semana, deu com o que parecia ser um time de jogadores de futebol. Todos atletas, cheios de vitalidade. Passou por um que parecia ser o técnico ou qualquer merda equivalente. Falava ao telefone, mas interrompeu o que dizia para dar a ela um boa tarde cheio de malícia. Em questão de frações de segundo, ela então lembrou ter ouvido, enquanto dormia, um dos miseráveis carros de som que às sete da manhã já rodavam pela cidade anunciar um jogo no estádio local. Sem pensar, retrucou para o tal técnico:
– Não é por nada não, mas vocês vão perder...
A vida é pura ficção. A certeza mais certa que tinha consigo nos seus poucos 30 anos de vida... Console-se, minha cara: talvez tenha mais três décadas aí para você se afundar...
Tudo bem. Só lhe restava, por enquanto, passar protetor solar no rosto e se embriagar. Além de observar os urubus no céu. Ainda bem que trouxera Bukowski para se distrair... Ainda bem que acreditava no deus Devir...
Numa noite, numa outra dessas infinitas cidades com suas noites perdidas de sertão, depois da aula, ela foi beber uma cerveja no bar da Mercedes. Estavam lá as duas, bebendo a cerveja e pensando na morte daquele cantor clássico da música brega brasileira. O cara tinha emoção, não se podia negar, mesmo que fosse um cachorro. Subitamente, caiu uma chuva ali, naquele fim de mundo, que trouxera consigo um cheiro doce de caju. Foi ali que percebeu, de fato, com o peso de uma verdade inegável, que o tempo leva a todos, da capital ou do interior, para o mesmo e sempre fim.
E ela nunca seria capaz de esquecer isso.
Aliás, ali também havia uma funerária, já percebera. A funerária PAF. Todo dia, invariavelmente, um carro de som (mais um) rodava por aí anunciando a morte do prestimoso senhor de tal ou da inesquecível senhora fulana... Fazia parte dos serviços da Funerária PAF. É isso aí. Ele (ou ela) estava lá, cheiinho (ou cheiinha) de vida, quando de repente: PAF!
Cumpriu sua missão. E foi para debaixo da terra. Virar fóssil ou estrume de vaca. Ou nem isso.
Quando ela voltou para o hotel, o técnico falava com os seus jogadores, todos reunidos no restaurante, sem nenhuma vitalidade.
Devem ter perdido no jogo

quarta-feira, 31 de julho de 2013

ALGUMAS NOTAS: DESCABIDAS, PRETENCIOSAS

FABULAZINHA ORDINÁRIA
Era uma roseirinha miúda, dessas que florescem em várias cores. Mas até florescer, o jardineiro que a trouxe teve que suar. Muito cuidado e apuro, atenção e palavras doces todos os dias. E troca a água. E troca a terra. A princípio, parecia que ela não ia vingar, trazida de feira distante, amarrotada em solavancos de viagem, todo aquele terror da mudança de vasos e ares.
Mas viveu. E o jardineiro, herói vencedor que afirma a vida, rejubilou-se. Foi em uma manhã, em que se percebendo maior, notou a roseira, mesmo que miúda, vivente, e assim vivente, vencida. Ele domou a morte e a pequena roseira brava então viveu. Viveu sim.
Mas eis aí o começo do fim. O movimento que não cessa, enfim.
O jardineiro, longe do desafio de torná-la rosa mais viçosa, foi como que se apodrecendo aos poucos, inteiro por fim. Envergado, feio e murcho, foi desanimando até virar galho seco. A água vinha com menos frequência. Com menos carinho a palavra para saudar o sol. Adeus, rosa bravia, parecia dizer a cada dia.
Até que num suspiro de tédio e saudade, a roseirinha tomou da decisão: na primeira brisa da primeira tarde de setembro, despetalou-se, a roseira se despetalou e virou vento. E ficou sendo só lembrança de felicidade.

DRAMAS DO TEMPO PRESENTE:
O que fazer quando se está sozinho em casa e não se consegue abrir a garrafa de vinho de jeito maneira?
a-) Se contentar com a única latinha de cerveja da geladeira
b-) Pular da janela
c-) Ir escrever qualquer tolice no facebook e (ver outras tb)

MAIS UMA DE AMOR? ORA, FAÇA-ME O FAVOR!
Você que, afinal de contas freudianas, só pensa mesmo é em pau, cu e buceta: a vida não se resume a isso, será preciso gritar? quantos buracos maiores no mundo? E cadê o abismo mais digno por onde se atirar?
Hein? Fala, Odete!

EGO- MÃE:
Entre o querer-ser o próprio ID e o dever-ser o SUPEREGO da filha

quinta-feira, 27 de junho de 2013

70 ANOS DE FALVES SILVA: A VIDA COMO OBRA DE ARTE - por Cellina Muniz

Neste ano de 2013, o poeta visual Falves Silva completa 70 anos de traquinagens. As comemorações (cujo auge será em outubro, com exposição na Capitania das Artes), já começaram, com o lançamento, no dia 15 de junho, da Pindaíba, revista independente de Fortaleza que traz matéria sobre esse expoente do Poema/Processo e da Arte Postal. Na ocasião do lançamento, Falves também apresentou a exposição “Cápsulas da Memória”, com trabalhos em ilustração e colagens reverenciando nomes diversos da cultura local e internacional e que, de algum modo, atravessaram sua trajetória.
Há vários motivos pelos quais eu me sinto fã do trabalho e da pessoa desse Mister Boy: desde as agruras que marcaram sua infância (pelo que foi obrigado a migrar da Paraíba para terras potiguares e trabalhar logo muito cedo, exercendo atividades múltiplas, como carregador de baldes d´água, entregador de jornal e ajudante de sacristão), passando pelo seu autodidatismo (com suas livres leituras no campo dos quadrinhos, cinema e semiótica) e pela sua presença fundamental na idealização e composição de jornais da imprensa alternativa da cidade de Natal (como A Franga, Cebola faz Chorar, Jornalzinho do Sebo Vermelho, A Margem) até chegar à sua habilidade inventiva em matéria de tiradas cômicas e satíricas. Mas um dos motivos que me chamam atenção e que destaco neste texto diz respeito à condição de Falves Silva de sujeito da experiência, nas palavras do educador espanho Jorge Larrosa, ou, mais precisamente ainda, seguindo a perspectiva do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, de ser/estar no mundo como obra de arte.
Comento isso um pouco mais a partir de dois trabalhos de Falves, ambos colagens: um, apresentado no zine Bichiga Taboca, de dezembro de 2002, e outro, apresentado na referida exposição “Cápsulas da Memória”, realizada lá nas adjacências do Beco da Lama, tradicional reduto boêmio e artístico da cidade.




Geralmente, uma colagem pode se definir como a apropriação/intervenção sobre imagens e textos de origens diversas, ressignificados e abertos à “versão” do espectador. Nesse trabalho, em meio a uma avalanche de letras de distintas fontes e uma série de ícones (do cinema, da música, das artes plásticas), lá está o rosto de Falves Silva, como a querer dizer: também eu faço parte dessa fauna, também eu posso narrar, num transbordamento de linguagens, a minha existência. Eu, sujeito assim exposto e imposto, fruto de uma experiência criativa/interpretativa que não cessa nunca. Eu, paixão. Paixão sim, já que “se a experiência é o que nos acontece e se o sujeito da experiência é um território de passagem, então a experiência é uma paixão” (LARROSA, 2004, p. 163).

Nessa narrativa de si de sujeito passional, nenhum problema em nivelar-se a Beethoven ou Che Guevara e nem cabe julgar isso com olhar moralizante. Como diria Nietzsche, ao Diabo com a moral! (NIETZSCHE, 2006, p. 77). O que vale, em uma concepção dionisíaca de arte, é a “vontade de vida”, “o triunfante Sim à vida” (NIETZSCHE, 2006, p. 105).
A mesma vida que se afirma no excesso, na força, na plenipotência da mistura de linguagens. Porque se a linguagem nunca dará conta do real, é preciso abusar dela, fazê-la transbordar além de seus limites. Assim, não seria o Nadaism esse vácuo em que pode caber o tudo, não só seus prazeres e seus pavores mas sobretudo a reinvenção do eu pela própria arte, única maneira de escapar à morte?
Quanto mais vejo os trabalhos de Falves Silva, mais admiro sua condição de sujeito passional e de artista dionisíaco, aquele que já se delineava quando, moleque ainda, costumava agradar aos papudinhos da vizinhança por cantarolar Jackson do Pandeiro. Sinto-me feliz por tê-lo conhecido e poder ouvir suas histórias enquanto tomamos juntos algumas cervejas pelos botecos da Cidade-Alta.
Um brinde à vitalidade de Falves Silva. Um brinde à vida!



REFERÊNCIAS
LARROSA, Jorge. “Linguagem e educação depois de Babel”. Tradução de Cynthia Farina. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
NIETZSCHE, Friedrich. “Crepúsculo dos ídolos”. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

LANÇAMENTO DA REVISTA PINDAÍBA EM NATAL-RN-2013

A Revista Pindaíba comemora 10 anos de existência com o lançamento de sua terceira edição na capital potiguar. Idealizada e realizada por um grupo de afinidades da cidade de Fortaleza, Ceará, a Pindaíba reatualiza a força das publicações independentes e a vontade de potência daqueles que querem se fazer expressar para além das regras do grande mercado e que, desde sempre na história dos impressos, dão um jeito para afirmar seu lugar ao sol!
Vida longa à Revista Pindaíba!
E um brinde à vida!

 O editor e a autora: André Dias e Cellina Muniz

 Manoel Carlos, editor da Revista Pindaíba, no seu momento poético

Falves Silva, o poeta/processo, comemorando seus 70 anos de arte com os pindaibeiros

domingo, 9 de junho de 2013