UMA ESTRANHA NA CIDADE
Recém-chegada à cidade, no hotel,
quando saiu para o almoço do primeiro fim de semana, deu com o que
parecia ser um time de jogadores de futebol. Todos atletas, cheios de
vitalidade. Passou por um que parecia ser o técnico ou qualquer merda
equivalente. Falava ao telefone, mas interrompeu o que dizia para dar a ela um
boa tarde cheio de malícia. Em questão de frações de segundo, ela então lembrou
ter ouvido, enquanto dormia, um dos miseráveis carros de som que às sete da
manhã já rodavam pela cidade anunciar um jogo no estádio local. Sem pensar,
retrucou para o tal técnico:
– Não é por nada não, mas vocês
vão perder...
A vida é pura ficção. A certeza
mais certa que tinha consigo nos seus poucos 30 anos de vida... Console-se, minha
cara: talvez tenha mais três décadas aí para você se afundar...
Tudo bem. Só lhe restava, por
enquanto, passar protetor solar no rosto e se embriagar. Além de observar os
urubus no céu. Ainda bem que trouxera Bukowski para se distrair... Ainda bem
que acreditava no deus Devir...
Numa noite, numa outra dessas infinitas
cidades com suas noites perdidas de sertão, depois da aula, ela foi beber uma
cerveja no bar da Mercedes. Estavam lá as duas, bebendo a cerveja e pensando na
morte daquele cantor clássico da música brega brasileira. O cara tinha emoção,
não se podia negar, mesmo que fosse um cachorro. Subitamente, caiu uma chuva
ali, naquele fim de mundo, que trouxera consigo um cheiro doce de caju. Foi ali
que percebeu, de fato, com o peso de uma verdade inegável, que o tempo leva a
todos, da capital ou do interior, para o mesmo e sempre fim.
E ela nunca seria capaz de
esquecer isso.
Aliás, ali também havia uma
funerária, já percebera. A funerária PAF. Todo dia, invariavelmente, um carro
de som (mais um) rodava por aí anunciando a morte do prestimoso senhor de tal
ou da inesquecível senhora fulana... Fazia parte dos serviços da Funerária PAF.
É isso aí. Ele (ou ela) estava lá, cheiinho (ou cheiinha) de vida, quando de
repente: PAF!
Cumpriu sua missão. E foi para
debaixo da terra. Virar fóssil ou estrume de vaca. Ou nem isso.
Quando ela voltou para o hotel, o
técnico falava com os seus jogadores, todos reunidos no restaurante, sem
nenhuma vitalidade.
Devem ter perdido no jogo
Acho que os caras perderam o jogo, mas no jogo da boa prosa seus leitores certamente ganharam.
ResponderExcluirUm abraço do Tião e do www.pocilgadeouro.com
Jogo é jogo! Todo game tem lá os seus riscos . . .
ResponderExcluirAlice N. na veia! Esse do Picos mesmo!