A minha primeira vez com Raul Seixas
A primeira vez em que ouvi Raul Seixas foi tão brutalmente banal, tão corriqueiramente chocante, tão vida que, realmente, não dá para esquecer essa primeira vez.
Acho que eu tinha meus treze anos, ou seja: era mais retardada ainda e com uma carinha de enjoada ainda mais acentuada. E também já não tinha juízo nenhum na tola cabecinha.
Mas os 13 são de tocar e revelar.
E com treze, eu sentia (e não percebia) que eu queria salvar o mundo para ver se me salvava também, lá no fundo. Num futuro remoto, eu acreditava que a felicidade se faria.
Então eu lia. E comecei também a escrever.
Um dia, ao voltar da escola, subi no ônibus (numa fase que nem pesava tanto, como a que se seguiu logo depois dessa) que me levaria de volta para casa. Eram doze horas, o sol solava sobre a cabeça e os hormônios começavam no meu corpo as primeiras confusões.
E quando entrei no ônibus, na geral (ou seja, no fundão), uma turma de estudantes também voltava e cantava, desafinada e eloquentemente, Metamorfose Ambulante.
E, com aquela música, naquela música, através daquela música e seu canto, eles celebravam com tal intensidade aquele instante que não pude deixar de me entusiasmar também com aquela celebração.
Pois é, até os treze anos, eu não tinha noção ainda dele (confesso). Tempo de aprender cada um tem o seu (às vezes nem tem). E, depois que passei a catraca, sentei num banco e ainda me animei a pegar Sabino da mochila, percebi que a cantoria não me deixava me concentrar no enredo daquele e notava também o quanto a letra ajustada àquela melodia era interessante, bela e dizia justamente algo com o qual eu me identificava, que me dizia de mim pela música.
Assim eu sozinha cismei naquela minha solidão.
E desde então nunca mais deixei de ouvir o tal Raulzito.
Morto há 23 anos, de algum modo, ele permanece. Pela obra que ainda faz girar algumas cifras e pelos “toque” que continua a soprar no ouvindo da gente, meninos e meninas perdidos nesse mundão de/sem deus, salve Raul!
Raul e Sabino. Bendita primeira vez, caríssima Alice N.
ResponderExcluirUm abraço,
Tião
Alice N. fez-me volta no tempo, e quando ouvia Raulzito na vitrola vermelha a pilha e "volts" lá de casa e também influenciado por Bruce Lee, fazia diabruras feito dragão chinês da Lagoa do Papicu. Lendas a serem escritas . . .
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