quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

10 anos de PINDAÍBA!!!


A REVISTA PINDAÍBA, UMA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE, ATREVIDA, METIDA A BESTA E CHEIA DE VONTADE DE POTÊNCIA, GRAÇA E INDIGINAÇÃO, IDEALIZADA, INSPIRADA E VIVENCIADA POR UMA CERTA MARGINÁLIA DA CIDADE DE FORTALEZA, CAPITAL DA TERRA DE IRACEMA,  ESPECIALMENTE NO BAIRRO DO BENFICA, COMPLETA 10 ANOS EM SUA TERCEIRA EDIÇÃO. VIVA OS IMPRESSOS QUE DESORDENAM OUTRAS FORMAS DE SER E VIVER ARTE.
VIDA LONGA À PINDAÍBA E AOS PINDAIBEIR@S!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MAIS UM CONTINHO ORDINÁRIO


O DEDO DO PÉ
Tinham a mesma idade e eram do mesmo signo lunar. A diferença: uma patroa, outra empregada. Então, em certas manhãs, enquanto uma passava o pano no chão, a outra saía à toa para saborear sua contradição.
Ambas tinham uma filha, meninas também, com quase a mesma idade. A patroa (que boazinha que ela era...) permitia que a empregada (que sortuda que ela era...) levasse a filha para o trabalho.
Numa daquelas manhãs contraditórias, antes de sair, a patroa-mulher cismou com uma coisa. As duas meninas, enquanto comiam cereal com leite, divertiam-se com os trejeitos de um palhaço na TV. Soltavam gargalhadas sonoras naquela beleza que pode ser a infância, o que chamou a atenção dela, distraída no sofá com suas conjecturas. Olhou para as duas, observando a cena, quando percebeu. O dedo do pé.
Que dedo feio! Horrorizou-se em pensamento. Era o dedo mínimo, que, na criaturinha, parecia mais ínfimo ainda. O dedinho do pé direito, quase imperceptível, mostrou-se para ela estranhamente grotesco e monstruoso.
Um dedo. Um centímetro teria? Quantas léguas trilharia aquele dedinho de pé? Quais os caminhos desconhecidos para se trilhar, quais os labirintos a se percorrer?
Enquanto as meninas riam a valer, a mulher saiu, incomodada por demais com aquela presença. Um dedo do pé. Passou o dia fora, ocupada em distrações diversas, mas quando chegou em casa, no fim da tarde, não pôde se controlar e fixou-se de pronto no dito cujo, quase escondido na chinelinha gasta.
Foi tomar um banho, nauseada com aquela visão. Como é que não vira aquilo antes, depois de tanto tempo? Após a ducha, não quis jantar, ainda impressionada com o horror do dedinho. Rolou na cama por várias horas, sem conseguir dormir. E quando finalmente adormeceu, sonhou.
Assim era seu sonho.
Sonhou que seguia por uma praia deserta. Isso mesmo, de novo. Caminhava e parecia ser cedo, muito cedo, o sol mal saíra. Ia pela risca onde as ondas morriam na areia, quando, subitamente, surgiu à sua frente uma pequena caixa dourada e ornada, de puro ouro.
Ajoelhou-se e ao abrir a caixa, deparou-se com o dedo já arroxeado, decepado de seu corpo.
Enojada, correu e correu quando viu uma porta e correu em sua direção. Parou ofegante frente a ela, abriu e ao entrar deu com o espetáculo.
Pessoas diversas, todas estranhas, homens e mulheres, corriam desesperadas em todas as direções. Algumas caíam e eram pisoteadas e uma fumaça negra cobria rostos e vultos numa sombra de pavor.
Acordou assustada, já atrasada para os compromissos do dia. No trabalho foi que ouviu a notícia: um incêndio em uma casa de show em outra cidade matou mais de duzentas pessoas.
Foi um dia péssimo. Com olheiras, discutiu com um colega, derramou café na blusa branca, errou nas contas e não conseguiu achar em nenhuma das gavetas uns papeis de que precisou. E logo que chegou em casa, exausta, um rostinho feliz veio lhe saudar com aquela presença terrificante: o dedo mínimo do pé direito, ainda pavorosamente horrível.
Deus do céu, que asco! Trancou-se mal-humorada no quarto, mal falou com ninguém. E quando dormiu, outro sonho veio assombrar sua noite.
Dessa vez, saindo de um quarto fechado e escuro feito breu, deu de cara com uma praia cheia de cadáveres. Candidamente, ondas batiam nos corpos inertes que ocupava a praia às centenas, aos milhares. Entre os mortos, homens e mulheres todos nus, avistou, ao longe, novamente a mesma caixa de ouro reluzente.
Não foi trabalhar nesse dia. E saiu logo cedo, procurando não esbarrar com a visão ameaçadora. Auele dedo aterrorizava seu pensamento como prenúncio ameaçador do mal. Que seria aquilo? Que fantasma ou demônio funesto aquele a lhe espreitar?
Andou a esmo o dia todo, sem destino certo, distraída no sinal vermelho, esquecida entre vitrines e bancas de revista. E assim feito zumbi, viu a manchete a escorrer o sangue lucrativo: mais de três mil mortes com o tsunami no litoral de um outro país.
Ao acordar, suada, na alta madrugada, teve certeza: era o dedo. O incêndio, a onda gigante, era tudo culpa do dedo! Claro! Claro, claro, claro. E enquanto o dedo pisasse sobre a terra, mortes aconteceriam até que... até...
Não teve dúvida. Aquele dedo tinha que ser expurgado. Cortado, amputado, sangrado e dizimado. Precisava virar pó para fazer cessar a fúria da Mãe Terra. Era preciso desmaterializar aquele dedo do planeta para rematerializá-lo em algo outro. Outra coisa. Outra vida. Sim, porque o mundo é assim mesmo absurdo e tudo cabe e se explica no dedo mínimo do pé de uma criança.
Mas como fazer? O que sua empregada iria pensar? Jamais permitiria aquele gesto, evidentemente. Não aceitaria nunca, julgaria uma atrocidade, não perceberia a magnitude do ato brutal.
E, confusa, odiava a si mesma por nunca ter percebido, em todos aqueles anos, aquele dedo maléfico. Mas que atitude poderia ter tomado antes? Como iria saber? Não havia jeito, a solução era agir logo e de maneira mesmo trágica, quaisquer que fossem as consequências. É, mas como fazer?
Uma anestesia potente para fazer a menina dormir profundamente? Então o golpe rápido e fatal, dando fim ao dedo com o facão de carne da cozinha? Ah, o horror, o horror, gemia, miserável, imaginando já o rosto de censura e ódio da empregada-mulher.
Três dias depois, sem dormir e sem comer, obcecada com a ideia fixa – o espectro do dedo a lhe angustiar Após o almoço, numa tarde sonolenta, ordenou, voz decidida de patroa:
– Vai lá na mercearia e me traz o que tá nessa lista.
As meninas dormiam a sesta juntas, na mesma cama. Dali a um instante, mesmo que já fosse pelo meio do quarteirão, a empregada ouviu os gritos de dor, confusa com o estranho poema que estava escrito no papel em vez de uma lista de compras, enquanto a mulher-patroa, agarrada à própria filha, tentava lhe consolar:
– Foi preciso, minha filha, foi preciso...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

CONVERSA COM FERNANDO LUCENA, O VEREADOR QUE SÓ LÊ OS COMUNISTAS - por Cellina Muniz e Jota Mombaça



Os três poderes
São um só:
O deles
Nicolas Behr


No dia 22 de janeiro, numa bela tarde, eis a novidade na rua Professor Zuza (aquela ali ao lado do IFRN da Cidade Alta, mais precisamente, onde fica o bar-restaurante de Zé Reeira): uma faixa na entrada da rua, tal qual porteira para o gado passar, anunciava: Espaço Cultural Dr. Rui Pereira dos Santos.
Nós e um grupo de amigos (o sebista-editor Abimael Silva, o professor João da Mata, o poeta Volonté e o pluriartista Falves Silva) discutíamos justamente o absurdo daquela “arrumação” quando o seu responsável, o vereador Fernando Lucena, irmão do finado Rui Pereira, apareceu por aquelas bandas, com aquele ethos de coronel que vai checar o seu curral. A propósito de rebanhos, naquele momento não havia nenhum militante do PT (talvez por conta do fechamento da sede, após o período eleitoral). Pois ele se aproximou, juntamente com o rapaz de nome Bruno, filho de Rui Pereira, a fim de saber o que achamos da novidade.
Quem pergunta quer saber, supõe-se, e então mandamos os questionamentos: qual o vínculo afetivo e simbólico o senhor Rui Pereira (cujo rosto já havia sido grafitado no muro do IF, não se sabe por que barganha) teve com aquele espaço da cidade? A escolha daquele nome foi fruto de uma consulta popular junto às pessoas que por ali moram, trabalham e/ou frequentam habitualmente ou foi simplesmente uma medida imposta goela abaixo? Há, efetivamente, representatividade e legitimidade naquela placa, além de sua cafonice visual?
Alguns esboços de resposta: não, ele não consultou ninguém porque ele é vereador e “representa” a cidade inteira; seu irmão Rui Pereira foi uma pessoa muito importante (segundo o filho Bruno, ele foi quem criou a FLIPIPA, viu, Dácio...) e “é meu irmão e eu quis homenageá-lo”. E acrescentou: “não deram o nome da ponte de Newton Navarro?”
Como se já não bastasse o assumido nepotismo e pretenso controle dos espaços culturais da cidade, o vereador ainda demonstrou sua ignorância acerca da literatura local, pois se tivesse lido “Do outro lado do rio, entre os morros”, obra na qual Navarro descreve o cotidiano na Redinha dos anos 70, ele entenderia a razão do nome, muito mais justo e legítimo do que aquele que ele quer impor à rua Professor Zuza (aliás, este sim um habitué daquele espaço, mais do que Rui Pereira foi).
Indagado se havia lido Navarro para pensar um pouco acerca das relações simbólicas entre um nome e um espaço da cidade, o vereador respondeu com essa pérola: “eu só leio os comunistas”. E só faltou dizer: “e apenas os livros de capa vermelha”. Não foi capaz de citar um só título de Gorki ou um verso de Maiakóvski...
Enfim, sem argumentos, desqualificou nosso grupo (nunca ouviu “tanta besteira”) e retirou-se, muito digno. A tarde seguiu e na mesa ao lado, uma outra polêmica se armava, certamente mais inteligente: quem jogou no Botafogo em 1972?
A pseudo-homenagem ao senhor Rui Pereira dos Santos (que, aliás, também não deve ter sido consultado) só reflete a mentira dos poderes constituídos supostamente democráticos para os quais, de novo e sempre, o público é apropriado em favor do privado.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

POR ONDE ANDARÁ ALICE N.?


Perguntei a todos, todos
(Aos profetas, rapsodos,
 
 
Aos suicidas e assassinos):
Saberiam do destino
 
 
Daquela que, mal surgida,
Fez-se desaparecida?
 
 
A que, por noite fugaz
Esteve, não está mais?
 
 
Poderão os adivinhos,
Os bebedores de vinho,
 
 
Dizer-me ao menos seu nome?
Será "A Mulher Que Some"?
 
 
Como o Silêncio me ouvisse,
Respondeu: "chama-se Alice.
 
 
Quer vê-la? Siga um conselho:
Procure-a através do espelho".
 
 (POETA DE MEIA-TIGELA)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

13



O primeiro pseudo
poema em que me meto
neste ano 13,

não tem força

nem vigor,
alegria ou tristeza
no seu intento...
Beleza lhe falta
mesmo com toda dor,
Com todo o fogo no corpo,
e com toda a alma.
O primeiro pseudo
poema em que me meto
neste ano 13,
é como estrela que mal nasce
distante anos e anos-luz
para logo morrer
em espetáculo silencioso:
Ninguém sabe, ninguém vê.
Inútil
Esse poema em que me meto,
de novo,
outra vez...
Mesmo assim:
tento.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ÚLTIMAS RIMAS CHINFRAS DE 2012

FIM DE ANO,
FIM DE MUNDO
EU DE NOVO
SEM RUMO.

2.
O DOLAR,
O DIA,
A DOR...
VIDA, VIDA
QUE ROLA,
ROLARIA,
ROLOU...

3.
DEZEMBRO CHEGOU!
DE NOVO O ANO
FINDOU!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

POEMETOS EM QUE ME METO

1.

O FIM ESTÁ PREVISTO.
MESMO ASSIM
INSISTO.

2.

A QUALQUER DIA,
EM QUALQUER LUGAR,
UM ACASO QUALQUER.


3.

EI, PODE IR EMBORA:
DEIXE ABERTA A PORTA
QUE EU TAMBÉM VOU.