terça-feira, 4 de junho de 2013

UMA CARETA PARA OS CARETAS





Eles/Elas dizem: você não devia ter feito isso, você deve fazer assado... Tod@s têm sempre uma opinião formada sobre tudo, tod@s sabem sempre a fórmula exata.
Hoje esta postagem, tola mas sincera, vai como careta para os caretas muito nobres em suas certezas, muito certos em sua nobreza. Eu prefiro a honestidade dos que rolam abismo abaixo sem o peso das convenções e ao calor de suas paixões. Tolas, mas sinceras.

terça-feira, 14 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

RIMAS CHINFRAS


Não há verso
no inverso
em que volta e meia
me converto.
Eu, tão sem nexo,
Eu, tão lua cheia,
aquela que contempla
o pescador perverso
afogar-se na areia.

A VOLTA DE ALICE N.


Depois de um chá de sumiço, quando eu menos esperava, eis que ela simplesmente me aparece, o sorriso mais sonso na cara. Alice N. voltou.
- Cheguei!
Tentei ignorar, como quem não dá a mínima por sua existência. Ela nem te ligo, largou as tralhas no meio da sala (uma bolsa colorida cheia de livros, papeis e algumas roupas) e foi se despindo para o banho. Não parava de tagarelar, só coisas desencontradas e sem nenhum controle.
- É assim mesmo, meu bem - falou, como quem consola - vida de rotinas e vida de aventuras, não foi assim que falou o teu mestre?
Acabei caindo no truque:
- Nietzsche?
Em resposta, ela deu uma gargalhada gostosa e foi para o banheiro. Uma sonsa aquela Alice N. Uma irresponsável, uma cínica, uma egoísta...
Suas palavras não me davam sossego. E sua presença, novamente materializada depois de tanta ausência, eram um misto de inquietação e alegria.
Enquanto eu me organizava para a lida do dia seguinte (seria Leminski? Talvez, mas não era muito o estilo dele...), ela cantarolva no chuveiro uma canção italiana, muito inocente. Pensei em fuçar suas coisas, saber o que andara escrevendo e aprontando.
- Alice N., por onde você andou? - eu quis saber, vendo os pingos escorrendo do corpo dela e ensopando o chão da casa.
- Por aí... E por aqui?
Aquela merda de sempre: a imprensa espremendo sangue das notícias, os egos inflados, as amizades frágeis que se vão...E, por certo, um próximo livro a ser lançado.
-Bukówski?
Em resposta ela me deu as costas e foi comer uma maçã. E eu fiquei ali, feito boba. O que se pode exigir de uma criatura dessas? O que se pode exigir da vida? Tudo? Todos os compromissos e promessas, fidelidade e dedicação?
Alice N. era como qualquer um: aquela contradição.
Observando a figurinha mastigando sua fruta muito candidamente, eu sentia minha respiração voltando ao normal. Quando minha revolta esfriou de vez, lembrei, num estalo:
-Maffesoli! Claro!
E a vida seguiu.

quarta-feira, 27 de março de 2013

POESIA PARA O DIA



AS FLORES
SÃO MESMO
UMAS INGRATAS

A GENTE AS COLHE
DEPOIS ELAS MORREM
SEM MAIS NEM MENOS
COMO SE ENTRE NÓS
NUNCA TIVESSE
HAVIDO VÊNUS

PAULO LEMINSKI

segunda-feira, 11 de março de 2013

MAIS UM CONTINHO ORDINÁRIO (DEDICADO À PATRÍCIA MELO)



ESCREVENDO NO ESCURO TAMBÉM
Largou o livro, numa expressão de enfado. Ô ódio! Vai escrever bem assim no inferno, sua maldita. Foi até a geladeira e pegou uma maçã, o estômago doía. Gastrite ou úlcera? O exame era na sexta. Na quinta tinha a panfletagem. Olhou para o fanzine no chão, ainda por terminar. Quero lá saber de poesia marginal agora. Quero lá saber de nada.
É que a lua estaria cheia dentro de algumas horas, sabia. É que seus hormônios infames a atacavam novamente, sabia também. E daí? É que não fazia outra coisa a não ser pensar na criatura. Dois anos naquela joça: ia dormir pensando na criatura, acordava pensando na criatura e quando sonhava, era a criatura o objeto de suas condensações e deslocamentos oníricos. Uma verdadeira praga. Ô ódio!
Cara Patrícia. Eu te adoro. Você escreve como ninguém. Adoro seus romances, adoro seus contos. Mas você não supera Clarice, queridinha. Isso não.
Por falar em Clarice, já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. Isso ela leu numa reportagem sobre as anotações de leitura de Ana Cristina. Outra louca atacada. Teria ela também gastrite?
Ou úlcera?
Quem, Clarice ou Ana Cristina?
A Patrícia...
É, Leminski, haja hoje para tanto ontem. Tinha ímpetos de pegar no telefone, ligar qualquer número ao acaso e perguntar para quem quer que atendesse:
- Alô?
- Me diga uma coisa, por gentileza: o que fazer com essa dor a me roer as entranhas, com essa obsessão a me triturar os nervos, com esses hormônios a me envenenarem o sangue e com essa lua a me revirar pelo avesso?
- Vai lavar uma louça, minha filha. Ou pegar no cabo de uma enxada, também tá valendo. Já viu as estatísticas de quantas crianças morrem por dia de inanição?
Tu, tu, tu...
Somente tu.
Olhou para a tela vazia do computador. Nada, totalmente no escuro.
Querida Patrícia. Seu conselho, de começar a escrever seja lá o que for não adiantou de nada. Continuo às cegas. Aliás, já te falei que te adoro? Mas não mais que Clarice, claro...
O estômago doía. No chão, o fanzine esperava por ser finalizado. Pegou novamente o livro, resignada. Logo mais a lua estaria no céu. E em uma semana estaria minguante.